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ESCOLHE A MÚSICA NA JUKEBOX

ESCOLHE A MÚSICA
NA JUKEBOX

ROTEIRO: MÚSICA  |  SANDRA NOBRE STORYTELLER  |  JOANA RAY ILUSTRADORA

Há noites em que uma mulher tem de sair para beber e dançar. Os homens saem em qualquer dia, as mulheres não, precisam de um motivo, uma data, uma depressão. Eu sempre me vi como uma espécie de jukebox, nem é preciso moeda, basta um acorde para o meu corpo se deixa levar. Todos os estilos – quase todos – surtem esse efeito. Por qualquer razão. Custa-me assumir, mas não sei cantar. Tentei. As noites de karaoke foram desastrosas. Tentei no Iceberg Bar, em Cascais, porque ali ninguém me conhecia. E ninguém me quis conhecer depois da experiência, mais arrepiante que o pior dos filmes de terror, que foi ouvir-me cantar Close to Me, dos The Cure: “Pull my eyes out/ Hold my breath/ And wait until I shake…”. Mas estarei, outra vez, na primeira fila, colada ao palco principal, no NOS Alive, a gritar pelo Robert: “I never thought tonight coul ever be/ This close to me…”

As jam sessions dos Anjos 70 deixam que cada um traga as suas influências para o palco e maior ou menor talento. Mas quem no seu perfeito juízo me entrega o microfone sem nunca me ter ouvido uma nota? “Who gives a fuck about an Oxford comma? I’ve seen those English dramas too/ They are cruel/ So if there’s any other way/ To spell the word, it’s fine with me/ With me”… Fiz jus ao nome dos Vampire Weekend naquele sábado em que, depois de incontáveis cervejas, tentei fazer um cover de Oxford Comma, mas mais parecia o Adolfo Lúxuria Canibal a declamar em fúria.

Depois de algumas tentativas, deixei-me de cantorias. Fico a ouvir os outros. No Popular de Alvalade, lugar de cantautores e de glórias do rock ao balcão. No Titanic Sur Mer, onde deliro com os Irmãos Catita e as loucuras de Manuel João Vieira, figura da emblemática do rock português e eterno candidato à presidência da república. No Ferroviário, onde o jazz se canta de improviso, na ZDB, numa onda mais alternativa, ou no Musicbox, para todos os gostos. Na Mesa de Frades, quando junto fados ao jantar, daqueles puros, castiços, que nos lêem as paixões, os desamores, as lágrimas e as alegrias, com vozes de anjos, assim servidos, entre os azulejos de uma capela oitocentista, numa ruela de Alfama, como remédio para a alma a acompanhar um jarro de vinho. Há noites assim.

Outras noites, não me chegam as canções dos outros, a música tocada ao vivo, preciso de uma pista de dança e os decibéis a dominarem-me o corpo. Entro na onda electrónica dos The Chemical Brothers: “Hey girls/ Hey boys/ Superstar DJ’s/ Here we ego…”, o meu corpo em transe numa das pista do Lux Frágil. O Rive Rouge pode ser uma boa alternativa, sobretudo nas noites em que o actor Nuno Lopes está nos pratos e misturo gin e rum no mesmo copo, o cocktail da casa. As festas da Villa Tamariz são uma montra de corpos bronzeados e figuras públicas, mas são ao ar livre e, no Verão, caem que nem ginja. O Radio-hotel é na mesma onda, mas sem a brisa marítima e a aparência conta, pelo menos no início da noite. Mas corpos por corpos, venham de lá as noites quentes do B.Leza com mornas, funanás e coladeiras a marcar o ritmo, agarradinhos. E sim, a dama dança. Perco a cabeça com a música dos anos 80 e 90, repetida nos icónicos Incógnito e no Plateau, até ao amanhecer.